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Meus olhos nos teus! - Y. Oak.



Meu reflexo no vidro embaçado de chuva.
O ronronar do motor do meu carro.
Engarrafamento.
O cenário perfeito para me imaginar num videoclipe, desses que a gente vê na internet.
Aumento a música no rádio.
Uma música de amor que fala de um coração partido.
Droga, mais uma pra coleção.
Olho pros carros à minha frente, imóveis.
Descanso as mãos do volante ao colo.
Ah, mais um dia se passou e nada mudou.
Fico relembrando os inúmeros momentos vividos, ainda tão vívidos em minha memória.
Cada sorriso, olhar e gesto se faz presente dentro de mim.
Miragens do que um dia me fez feliz.
Ah, felicidade.
Palavra complicada de descrever e tão fácil de se perder.
Um momento vagando pelas lembranças, o transito avança mas não muito.
Volto às minhas recordações.
Lembro-me de me ver no seu olhar, tão nítida que parecia ser até real, mas não.
Só mais um acaso, como todos os outros.
Uma vida feita de pequenos acasos do destino.
Meras coincidências que apenas surgiram para me mostrar o quão fraco meu coração é.
E cá estou eu novamente, de novo, mais uma vez.
Com meu pobre coração mais remendado do que uma colcha de retalhos que a vovó usava para me cobrir nas noites frias de outono.

Céus, como ainda consigo aguentar tudo isso?
Não sei, acho que apenas me acostumei com essa ideia.
A música chega ao seu ápice e seus olhos me vem à memória.
Juro que quase posso vê-lo.
Diante de mim.
Aquele sorriso.
Meu Deus, aquele sorriso.
Aquela covinha tão linda, na bochecha esquerda.
Aquele beijo escondido no canto direito dos lábios rosados e sutilmente curvados pra baixo.
Uau, como me lembro dos seus detalhes!
Mas, afinal, minha vida é feita de detalhes, não é mesmo?!
Pois bem, me lembro de todos eles.
Da sua risada.
Do seu bom humor.
Da sua voz.
Do seu perfume.
De tudo.
Tudinho mesmo.
Ah, sinto sua falta.
Saudades de como era bom ser feliz.
Saudades de tantas coisinhas pequenas e bobas que me faziam sentir completa.
Confesso que, se eu me esforçar só um pouquinho que seja, posso fazer uma lista de momentos lindos que guardo dentro do peito, e em 99% deles você era um personagem permanente e imutável da minha história de amor.
Era bom.
Simples.
Fácil de entender.
Bom de se viver.
Mas acabou.
Rápido demais para me deixar pensar em algo mais.
Mas tudo bem, pelo menos tenho o que recordar.

Mas não se esqueça: tudo o que foi vivido está tatuado em mim.
Palavras.
Versos.
Gestos.
Gostos.
Olhares.
Sorrisos.
Sussurros.
Melodias.
Notas.
Abraços.
Toques.
Você.
Eu.
Tudo.

A música termina e com ela, leva minhas lembranças e minha saudade.
O transito à frente volta a andar.
A música parou. O tempo passou. A saudade voou. E agora?

Uma nova canção começa a ronronar no rádio.
Um sorriso travesso nos lábios me diz que mais um clipe está para se formar em minhas memórias.
Mais uma chance de sonhar acordada!


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